A filosofia Lean em tempos de crise

Stepps
4 min readJun 30, 2020

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Esse texto faz parte do Visão de Dentro, seção da Stepps News em que a cada edição um convidado diferente escreve sobre o ramo de indústria no qual atua, trazendo insights e conhecimentos relevantes.

Por Waldemar Neto

No início de 2014, iniciei minha jornada profissional numa empresa que tantos outros estudantes de engenharia sonhavam em trabalhar: o Estaleiro Atlântico Sul em Suape, Pernambuco. Enquanto estávamos na faculdade, ouvíamos falar do mundo que era aquela empresa, que, para todos os lados que você fosse, respirava todos os tipos de engenharia, fosse civil, mecânica, de produção, entre outras. Uma coisa que eu não sabia, e não acompanhava, era que a empresa nunca tinha trazido lucro para o grupo de investidores. Mesmo assim, pagava bem e o desafio de fazer parte da construção naval da nova frota de navios da Petrobrás era empolgante, para não dizer um sonho. Ainda naquele ano, a crise estourou e já com uma nova liderança, totalmente focada em Lean Manufacturing, foi onde comecei a dar meus passos nessa filosofia que tanto me encanta. Já era notório que a empresa não tinha lucro, com a crise estourando no Brasil, só tínhamos uma opção para seguir funcionando. Tornamo-nos competitivos. Para isso, tivemos que mudar o mindset de todos que ali estavam, desde os primórdios da companhia até os últimos dias de funcionamento. A mudança era melhoria contínua, fazer mais, melhor e com menos, investindo apenas nas pessoas. Com esse objetivo de competitividade claro, todos nós passamos a trabalhar focando na redução dos 7 desperdícios e como implementaríamos elementos do Lean em nossa companhia. A primeira coisa que fizemos foi um mapeamento de fluxo de valor (VSM), para visualizarmos onde tínhamos grandes oportunidades para alcançar esse objetivo. Com isso, balanceamos a linha, fizemos kaizens, passamos a controlar a produção hora a hora, implementamos kanbans, entre outros elementos que o lean nos traz.

Lean Manufacturing. Fonte: DOO Gestão de Qualidade.

Parando para pensar, essa pandemia do novo Coronavírus também nos faz refletir sobre a crise que estamos passando. Quem não ouviu falar de empresas que pararam, fecharam, que estão funcionando em regimes de trabalho inferiores ou que até demitiram milhares de pessoas? A demanda diminuiu. E o que estamos fazendo para passar por essa crise? Temos um mar de dificuldades para atravessar, então, o fator de reinventar nossa indústria é o que vai nos tornar mais competitivos. Alguns irão dizer que, como o mundo está indo para 4ª Revolução Industrial, essa é a nossa chance de mudar, de faturarmos. Pode até ser, daí eu prefiro pensar que o básico bem feito pode nos mostrar esse caminho a seguir. Vamos refletir juntos sobre os 7 desperdícios que o Lean nos apresenta:

- A empresa que você trabalha superproduz? Ou seja, produz muito mais do que a demanda dela?

- Os estoques do material que você entrega, dentro do armazém, estão parados? Ou você tem enxergado caminhões e mais caminhões saindo pela portaria?

- Falando em caminhão, vamos falar sobre o desperdício de transporte. Dentro de nossas empresas, o que estamos fazendo para reduzir o transporte de material pela fábrica? Por exemplo, estamos usando empilhadeiras ou paleteiras para levar nossos produtos para o armazém?

- Pare um segundo, faça um círculo no chão e observe sua produção por 15 minutos. Veja se sua operação exige excesso de movimentação dos colaboradores, ou ainda se eles estão esperando por alguma coisa, ou se o processo está parado porque está esperando algo. Ainda nesse ponto, será que, dentro das atividades, ainda existe o desperdício do processamento em si ou processamento desnecessário? Ainda temos algum tipo de operação que poderíamos reduzir o tempo ou até eliminá-la?

Se a gente parar para observar, a filosofia do Lean nos apresenta os 7 desperdícios para transformar o nosso trabalho, a nossa vida pessoal e, principalmente, para pensarmos como será daqui para frente. Para vencer a crise que estamos passando precisamos nos tornar competitivos, precisamos questionar o “modus operandi” e pensar: onde posso ganhar, o que posso fazer diferente, onde posso trazer redução de custo? E ainda, onde posso fazer com que minha operação seja mais produtiva, garantindo a segurança dos meus colaboradores e a qualidade dos meus produtos, bem como a satisfação dos meus clientes?

No final das operações do Estaleiro Atlântico Sul, em meados de 2019, eu já não trabalhava lá, mas acompanhava de longe os feitos que ajudei a construir. E sim, se tornaram competitivos frente a estaleiros chineses ou japoneses, passaram a entregar um navio a cada 3 meses. Tudo isso em uma recessão que ninguém esperava, mas alcançaram seu objetivo. Tornaram a mentalidade de construção naval em uma indústria naval. Tudo isso com foco em fazer diferente, em questionar o porquê de sempre fazermos assim. A crise por conta do novo Coronavírus já está acontecendo, a empresa que não estiver buscando o diferencial competitivo, se reinventando, pode ser que não passe por ela.

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Otimizando processos para redução de desperdícios.

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